#MeToo - Já senti receio de andar sozinha

Nas últimas semanas têm circulado estados no Facebook, Twitter etc... com o hashtag #metoo como forma de chamar a atenção o número de mulheres que já sentiram e foram assediadas sexualmente. Como tantas mulheres, partilhei! Ao partilhar comecei a pensar em todas as formas que me tinha sentido agredida sexualmente, fosse ela fisicamente ou verbalmente. Pensei igualmente sobre as vezes que vi o mesmo acontecer a outras mulheres e caiu-me uma verdade pesada em cima, eu, como tantas outras mulheres contribuo para que em determinados contextos, o assedio sexual seja legitimado.

Antes que me "saltem" em cima, deixem-me antes explicar. Somos programados pela sociedade, media, tv, cinema, música a pensar que determinada roupa, maquilhagem e até uma coisa tão básica como um sapato implica que essa mulher as esteja "a pedir". Demorei muito tempo para conseguir de certa forma reorganizar a minha forma de pensar e perceber que me estava a ser incutida uma forma errada de pensar e que ao expressar comentários negativos sobre outra mulher, estava a legitimar o tratamento que lhes é dado. O mais interessante é que nós somos inundados por imagens de como nos devíamos vestir, muitas vezes com títulos explícitos que avançam com a ideia que só assim é que conseguimos conquistar um homem, sofremos assedio e nós próprias falamos mal em cima. É um ciclo vicioso que não termina.

E aqui em cima estão apenas representadas uma percentagem de mulheres. Vocês podem estar a pensar "Que mal fiz eu?", "Eu que ando de calças de ganga e uma camisola", "Eu que pouco ou nada mostro", "Eu que nem me maquilho" ou o "Eu que uso batom vermelho! Sim, porque gosto e me faz sentir bem". Ao reflectir sobre estas questões, sobre a forma contínua como o corpo feminino é continuadamente objetivado e sexualizado, decidi pesquisar palavras como nudity no Google. Ao fazer esta pesquisa deparei-me com 98% de fotos de mulheres expostas em poses sexuais. Até o nosso estado natural que é a nudez é ligado à oversexualização das mulheres.

Atenção, a mulher tem o direito a ser sexual, tem exatamente o mesmo direito a sua sexualidade como um homem. No entanto, o retrato do corpo da mulher que aparece é sempre de forma a que agrade ao homem, que dê prazer físico e mental ao homem. E aqui entra o empowerment feminino, muitas vezes temos tão enraizadas em nós que o nosso valor é associado ao que um homem pensa de nós e como ele se dirige a nós, que nos tornamos vulneráveis a este tipo de exposição.  Para mim não passa de umas algemas que nos são postas a partir do momento em que o teu órgão genital define o teu papel e tratamento na sociedade.

Pensando em tudo isto, no outro dia cruzei-me com uma frase escrita numa parede na rua "Não é normal de ter medo de andar sozinha". E dei por mim a sentir-me aliviada, quantas vezes não estiveram na situação de terem que andar 5 minutos a pé as 5 da manhã e estarem constantemente com receio, qualquer barulhinho torna-se num sobressalto. E senti-me aliviada por que? Finalmente percebi que não era a única a ter medo. A palavra medo foi a palavra chave, porque quantas vezes não dizemos "Não gosto de andar sozinha" e muitas vezes eu própria proclamei esta frase com receio de que se dissesse alto "Tenho medo", essa possibilidade de acontecer algo se tornasse mais real.

E não, não é de todo normal termos medo de andar sozinhas na rua. Mas este medo vem da interligação feita pelo assedio sexual, pela exposição que nos é feita, pelo preconceito que nos persegue só porque gostamos de nos apresentar de X forma, até a nossa pele pura e crua é usada como se a essência da mulher fosse um mercado aberto de vendas e trocas.

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