Vamos falar?! Suicídio

Vamos falar?!

Suicídio.

Comecei e apaguei o início desta entrada 10x. Queria ter uma entrada bonita mas a verdade é que não existe uma forma bonita de falar sobre este assunto mas existe uma forma honesta.... e dolorosa.....

Já pensei em falar sobre este assunto mil vezes e até já cheguei a publicar sobre, mas rapidamente apaguei, fiquei a pensar sobre o que pensariam de mim e o medo do estigma, da imagem de fraca, instável e de "maluquinha" levaram a que eu apagasse. No entanto, ontem num artigo lançado pelo Guardian em relação ao Dia Mundial da Saúde Mental (https://www.theguardian.com/society/2018/jun/30/nothing-like-broken-leg-mental-health-conversation?CMP=fb_gu) e após ter visto um monte de publicações entituladas lets talk decidi abordar este tema, que para mim é tudo menos fácil e me provoca uma grande tristeza.

Se eu perguntar quantos de vós já pensou no suicídio nem que tenha sido por meio segundo? Que me respondiam? 
E se eu agora disser agora que metade da minha vida girou em torno dele? 
A nível global o suicídio tem-se tornado uma das maiores epidemias atuais... Ou então sempre o foi, sendo silenciado, condenado a pessoa a uma imagem criada que a descrevia como fracassada e pecadora. Quantas vezes não se ouve "com tanta gente com (inserir doença) que ingratidão ser-se tão egoísta"? 

Já me tentei suicidar e já tive alguém próximo que se suicidou. Andei anos a remoer em volta daquilo, sendo aquele evento um grande fator para o desenvolvimento da minha própria patologia. A aceitação e o período de luto como qualquer um, é longo e doloroso..... Se disser que demorei uma década a aceitar não se encontra longe da verdade. O ciclo da culpa, fúria, tristeza e dor parece tocar num loop constante. Passei anos a pensar "mas eu sabia que a pessoa não estava bem, devia ter feito mais, falado, ALGO!!!". 

Aconteceu quando eu tinha 14 anos. Passei os próximos 14 a batalhar contra (remar contra a maré se assim o podemos dizer) e confesso que o meu maior desejo era o escape a qualquer outra coisa que não fosse a minha vida. Os comportamentos autolesivos pioravam quanto mais me sentia mergulhada na minha depressão. O que começou por arranhadelas passou para cortes e cicatrizes, arrancar cabelo e a cabeça em frida. No meio encontravam-se overdoses e pensamentos que me fazem hoje sentir tão mal que não os desejo repetir. Lembro-me que até a falta de capacidade e de coragem para seguir em frente me fazia sentir ainda mais fracassada, inútil e sem valor. 

Gostava de falar mais a fundo disto... mas por enquanto fico-me por aqui. 

Tive uns bons anos que ouvia a Mad World do Gary Jules e talvez seja a melhor forma de me expressar sobre o que foi mais de uma década da minha vida:

And I find it kinda funny, I find it kinda sad
The dreams in which I'm dying are the best I've ever had
I find it hard to tell you, I find it hard to take
When people run in circles it's a very very
Mad world, mad world

https://www.youtube.com/watch?v=4N3N1MlvVc4



Se acharem que estão em risco por favor contactem uma linha de apoio, um psicólogo, psiquiatra ou um médico de família. Não se esqueçam que há sempre alguém disposto a ajudar e a ouvir e que o processo é um dia de cada vez.


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