Sou Borderline? Ah és Bipolar?!?

Isto deve ser a coisa mais difícil que alguma vez escrevi.

Na verdade, nem sei bem por onde começar.... do início pensam vocês? Pois, até podia começar mas a verdade é que nem sei localizar o começo. Mas sei começar pelo dia em que fui diagnosticada e o dia em que vi Girl Interrupted (1999).

Tenho Borderline Personality Disorder (BDP) ou em português síndrome de Borderline ou então (nome chato e complicado) transtorno de personalidade limítrofe.

Tenho 26 anos. Tenho amigos. Estudo. Sou uma pessoa animada e cheia de vida. Adoro viajar e conhecer coisas e realidades novas. Não é o que se está a espera quando se pensa em doenças relacionadas com a saúde mental pois não? Pois, eu gostaria de vos dizer que sempre foi assim, que sempre acordei todos os dias com a vontade de sair da cama e fazer coisas e aproveitar o dia. Mas não, nem sempre foi assim e eu admiro profundamente todas as pessoas que sofrem de transtornos, de desequilíbrios emocionais e de lutas interiores que conseguem na maior parte das vezes sair da cama de manha e não deixar que a doença ditar a vida deles.

BDP é uma doença que eu própria ainda estou a tentar entender e que se manifesta de formas diferentes em indivíduos diferentes. Mas para mim tem uma base bastante comum. Quem sofre de BDP tem medo do abandono, da rejeição, de falhar, de não ser socialmente aceite de alguma forma. Isso leva a comportamentos erráticos, a depressão, a comportamentos auto-lesivos, impulsividade e de acções descontroladas. Tendemos a magoar quem nos é mais próximo por saber que eles ficam e não nos vão abandonar, a testar limites e paciência para ver se as pessoas ficam, a testar as pessoas de própria vontade e quando elas não aguentam culpar-las e depois infligir a  culpa em nós próprios. Chegar ao ponto onde temos que mascarar a dor por outro comportamento que o esconda. Outro grande problema que ocorre é ansiedade. Algo com qual sofro desde que me lembro ser alguém, especialmente ansiedade por medo de falhar.

Tendo dito isto, volto ao que se calhar quero evitar, o dia em que fui diagnosticada. Foi em Julho de 2013 e após anos de comportamentos erráticos, do sentimento que tinha constantemente uma nuvem negra que me acompanhava, de me forçar a rir, a viver, de tentar evitar que a vida para mim tinha parado fui a um psiquiatra. Sou sincera, não queria ir e se for ainda ainda mais sincera o período de querer ir, de querer eu própria melhorar demorou anos (este para ser exacta). Lá fui eu a consulta, tive lá uma hora e meia a falar das coisas e quando chegou a casa bateu-me. Se eu já me sentia anormal e diferente dos outros ter, um nome atribuído ao que se passava ao contrário de ajudar simplesmente consolidou o que eu achava de mim própria. Que era uma anormal que não conseguia controlar as próprias acções. Devido a minha reacção negativa e de ter rejeitado por completo que não conseguia ter controlo das minhas emoções sozinha, dos meus comportamentos sozinha, levou a que os seguintes anos fossem complicados.

Tive mudanças significativas que levaram a um trajecto demorado. Na minha cabeça não passava de um problema causado por estar num curso que não queria e de uma relação problemática. Quando mudei de curso senti-me melhor então deixei de tomar os medicamentos por vontade própria. O que tenho a dizer é que isto foi o meu maior erro. E hoje digo a qualquer pessoa, tomem os medicamentos. Porque como em tudo na vida, o meu período de felicidade foi short lived e passado pouco tempo voltei ao mesmo e a ansiedade extrema voltou. E assim continuou durante 2 anos. Passei 2 anos a lutar comigo própria, passei 2 anos constantemente em consultas de urgências em que medicavam e marcavam consultas e eu nunca ia nem se quer olhava para os medicamentos. Para mim não era aceitável eu não conseguir controlar-me, cada vez que me ia a baixo culpava-me por ser fraca, por não me esforçar o suficiente para as coisas me correrem bem. O ciclo vicioso durou 2 anos.

Em Janeiro de 2016 e já na minha segunda consulta de urgência (e depois de ouvir pela 6.458 vez que tinha que mudar e fazer o bem por mim própria) decidi iniciar o tratamento. Não é fácil, e muitas vezes a minha vontade de mandar tudo fora é grande, mas a persistência por querer ser feliz acabou por ganhar. Deixei de ver os medicamentos como um inimigo, o psiquiatra como uma pessoa indesejável.

Escrevo sobre isto porque não é fácil, porque sinto que há pouca informação e porque pertenço ao grupo da doença incompreendida. Já vi Girl Interrupted duas vezes, a primeira emocionei-me porque finalmente havia algo que retratava o que eu vivia, mas depois comecei a pensar no filme, e decidi ver de novo. A segunda vez que vi, não me reconheci nele e até hoje acho que apesar de tocar em alguns aspectos não demonstra de verdade nem de perto o conflito interior que se vive. Mas também reconheço a pouca informação que existe e que nos consiga fazer compreender o que é.

O que eu tenho a dizer é que a aceitação não é algo automático, que o tratamento não elimina dias maus, mas que vale a pena. Falem, falem com alguém com quem confiem, falem com um profissional. Acima de tudo não deixem que a doença fale mais alto porque antes de existir a doença existimos nós e nós valemos a pena. Nunca deixem que falhas ditem quem são e do que são capazes. Acima de tudo gostem de vocês por mais que custe e por mais que seja trabalhoso. A recompensa of letting go é tão mas tão maior do que o resto. E não, não vos vou mentir, nem toda a gente aceita ou compreende mas se se esforçarem para o fazer é porque gostam de vocês, se vos tentarem ajudar é porque gostam de vocês e a nossa felicidade, as pessoas que nos rodeiam e o que torna os nossos momentos especiais valem sempre a pena.

Deixo aqui alguns links para quem quiser ler mais sobre BDP:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_de_personalidade_lim%C3%ADtrofe
http://www.tuasaude.com/sindrome-de-borderline/

Existe pouca informação, mas podem também recorrer a livros de psiquiatria ou psicologia. A minha intenção de escrever isto é exactamente para chamar a atenção a existência de BDP e não entrar nos motivos que a causaram.

Se se sentirem em baixo, com pensamentos negativos ou tendências suicidas falem com alguém próximo. Se forem estudantes de Coimbra e sentirem que não podem falar com ninguém próximo recorram aos serviços médicos no edifício da FMUC no Pólo I.

Acima de tudo não desistem e coragem.



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