Chove. Fiquei triste.
Um longo verão
Após um verão português que pareceu durar eternidades e um inverno em que mal se viu uma gota de àgua a cair, dei por mim com esta mudança de tempo "radical" (só radical porque já nem me lembro o que é um inverno a sério) de chuva e frio a sentir the "winter blues".
Curiosamente nunca atribuí uma grande ligação entre o tempo e a minha tal tristeza quase traço marcante da minha personalidade. Não liguei até estas últimas duas semanas. A quem não custa sair da cama as 7 numa manhã de inverno? Mas dei por mim pouco a pouco em tornar a minha força motivadora, saber que a noite poderia voltar para a tão maravilhosa cama. E assim andei, dia após dia, durante várias semanas, com este sentimento de apatia e de que repentinamente tinha ficado sem objetivos que me dessem vontade de sair da cama.
A procura do nada entre o tudo
Para quem não me conhece e acha esta ideia de sair da cama em torno de objetivos e não por razões puramente mais leves uma imbecilidade (afinal podemos sempre criar objetivos novos), que careço daquele pequeno defeito/virtude de nunca estar satisfeita com nada. E sim, digo virtude, porque acho que este defeito acaba por tornar-se motivador quando eu julgo não ter motivação para alcançar mais. Mas dei por mim a perder isso, todo o meu percuso do nada parecia de repente não fazer sentido, as coisas tornar-se uma mistura de amargura e raiva por não ter optado por outro caminho.
O que também se calhar não se apercebem é que esta tristeza contínua e falta de preenchimento pessoal torna-se numa enorme bola de neve que se acumula. E do nada dei por mim sempre cansada. Tentei dormir mais, ver um filme no final da noite, abstrair-me. Mas não parecia haver solução, rendi-me ao cançaso e eventualmente tornei-me lentamente mais e mais desagradável. Tudo era um esforço. Fazer o que eu gostava era um esforço. Estar com as pessoas de quem gosto era um esforço. Apercebi-me também que tinha começado a embarcar num discurso negativo e não é que eu me obrigue a ser uma pessoa positiva, mas reparo que normalmente as tarefas me correm melhor quando não reduzo tudo "a uma merda".
No meio destas 3/4 semanas, dei por mim a ter todas as emoções possíveis e imaginárias que eu já não sentia desde uns bons largos tempos. Comecei a ponderar se não devia voltar a ver umm especialista, se um comprimido não seria a solução mágica. Mas numa conversa onde tinha ligado o meu "falso positivismo" apercebi-me do meu problema, estava triste mas achava que não tinha direito a o estar.
Podem-me deixar triste?
Tendemos a problematizar emoções "negativas" e a querer ver-nos livres delas mais rapidamente possível. E se no fundo o que me estava a deixar mais triste era a falta de reconhecimento da minha própria tristeza. Criamos uma ideia na sociedade de uma falsa felicidade e a consequência dessa é a pressão que coloca para nos apresentarmos sempre dessa forma. E se simplesmente aceitamos que podemos estar tristes e que a demonstração pública dessa emoção é tão válida e tão humana como a felicidade? Tristeza não equivale a fraqueza.
E podemos estar triste porque chove ou porque num dado momento a vida não está no ponto onde gostaríamos que ela estivesse ou até porque pensavamos que ainda havia chocolate em casa e afinal alguém o tinha comido. O que não podemos é continuar a alimentar uma sociedade em que só é permitido transmitir a ilusão do bom, se pensarmos bem nunca há nada bom que não tenha vindo sem momentos de mal-estar, sacrifícios, trabalho e pensamentos que por vezes nos deixam tristes.
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