Duvidas das Relações Internacionais

Tive um percurso no ensino superior um pouco peculiar por assim dizer.  Para explicar isto volto atrás uns anos quando escolhia as minhas disciplinas do 12º ano, sempre adorei história e sem uma sobra de duvida foi a minha primeira escolha. Adorava estudar a guerra, as conquistas e o poder trazida por estas, mas por outro lado tinha um fascínio pela América Latina. Andei o 12º e o 13º ano constantemente a batalhar que licenciatura escolher, navegava constantemente entre Estudos Espanhóis e Latino americanos, Relações Internacionais e História.

Acabei por escolher Relações Internacionais em Coimbra, após ter decidido que não queria ficar no Reino Unido. E aí comecei o percurso meio desnorteado académico. O meu sonho de repente virou pesadelo quando passado 2 semanas odiava o curso, o curso por qual ansiava, que tinha tido tanto trabalhado tanto para convencer a minha mãe que não me ia levar para o meio de uma guerra. Passou o primeiro semestre e desisti e voltei ao zero.

Algo que tenho que referenciar é que passado os meus primeiros 6 meses em Portugal já conseguia perceber que existia um estigma perante determinadas faculdades e cursos. Encontrei-me de repente numa Licenciatura de Direito na tão prestigiosa Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Como já referenciei era uma jovem idealista cheia de idealizações de justiça igualitária e paz, como podem imaginar um curso de direito para alguém tão idealista e com tanto interesse no exterior, Direito estava longe de ser o indicado. O Direito Internacional era pouco humano, não havia Direitos Humanos. Após 4 longos anos ganhei coragem e voltei para aquilo que eu sabia que era a minha paixão.

Tenho sempre muito cuidado de nunca criticar as pessoas que se demoram a encontrar, especialmente num percurso tão crucial como a do ensino superior. Afinal eu sempre soube qual era a minha, mas no meio de um choque cultural e nas dificuldades da língua acabei por me deixar desmotivar. Passado 4 ano finalmente encontro-me no que adoro, como em tudo há matérias que eu desejo nunca mais voltar a ver (Economia *cough cough*), mas sinto-me no sítio certo e que estou a seguir o meu caminho.

Mas o que é isto da minha paixão? A minha paixão pelas RI leva-me ao auto investigação, ao querer saber sobre determinada cultura e conflito, ao querer saber quais as narrativas que moldam o presente. A geopolítica e os direitos sejam eles internacionais ou humanos moldam a minha forma de pensar e de querer agir. As relações internacionais como qualquer outra área, tal como a jurídica, a médica ou a económica tem diversas vertentes. Nem todos estudamos o mesmo a querer o mesmo outcome desse, mas há um determinado rush que sinto quando estudo determinadas matérias e imagino aplicar aqueles conhecimentos na minha vida futuro. Não é fácil explicar tentar explicar aos membros da família que se calhar queremos ir para um projecto de desenvolvimento na Guiné Bissau ou fazer investigação sobre os gangs no El Salvador. Que o que queres não te traz necessariamente estabilidade profissional ou familiar, que se calhar vai fazer com que saltes de país em país inicialmente.

A duvida do percurso das Relações Internacionais é longa e incerta, a falta de mestrados em Portugal deixa-me frustrada, as perguntas constantes de "o que vais fazer com relações públicas" ou "o que é a tua profissão?" deixam-me inquieta. No entanto, a minha paixão pela humanidade e pelo conhecimento não me deixa duvidar da escolha que fiz, na minha certeza que terei todo o gosto de abdicar de uma vida dita "normal", se isso fizer com que me realize profissionalmente. Apesar do futuro escuro e incerto que as vezes pareço ter escolhido, sinto-me decidida cada vez mais a dedicar-me ao que eu chamo sem duvida alguma de my better half.